O conceito de banalidade do mal segundo a filósofa Hanna Arendt
No nosso dia-a-dia fazemos muitas coisas das quais nem sabemos porque fazemos. Se em algum momento alguém nos perguntasse: Por que você faz o que você faz da forma que faz? Bem, em alguns casos a única resposta que teríamos seria: Não sei, sempre foi feito dessa forma!
Com o dinamismo dos nossos dias atuais e as muitas e muitas atividades que estamos realizando simultaneamente a todo tempo, de fato são raros os momentos dos quais paramos para refletir sobre nossas ações. Mas queria chamar sua atenção exatamente para esta questão: Refletir sobre nossas práticas cotidianas é tão necessário quanto a própria realização de tais práticas.
Um bom soldado, na intenção de prestar um serviço exemplar e eficiente para seu país pode ser responsável pela dor ou até mesmo pela morte de pessoas inocentes, apenas pelo fato de que “é assim que deve ser feito”, banalizando as ações de forma geral. Diante disso, no vídeo de hoje vamos falar do conceito de “banalidade do mal” da forma abordada pela filósofa Alemã Hannah Arendt.
Hannah Arendt (1906 – 1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, considerada uma das pensadoras mais influentes do século XX. O ponto de partida para entendermos a reflexão em torno do tema proposto pela filósofa Hanna Arendt e a 2º Guerra mundial, onde o genocídio de milhões de pessoas trouxe à tona o problema da maldade humana. Hannah Arendt foi enviada como correspondente pela revista The New Yorker para cobrir as sessões do julgamento tornadas públicas pelo governo israelense, dos quais um dos julgamentos foi de Adolf Otto Eichmann, que ocorreu em Jerusalém, em 1961. Ele era o chefe da Seção de Assuntos Judeus do Departamento de Segurança alemão, sob o governo de Hitler.
A acusação do tribunal sobre Eichmann era que o mesmo seria responsável por enviar centenas de milhares de judeus para a morte nos campos de concentração nazistas. Ele foi condenado à morte pelo neste mesmo Tribunal e executado em 1962. Em 1963, com base nos artigos publicados pela The New Yorker, a autora publicou um livro sobre o julgamento e nele desenvolveu uma análise sobre Eichmann. Neste livro Hanna aborda algo muito interessante, onde durante todo o julgamento de Eichmann, ele mostrou-se um homem comum, que prezava o cumprimento de seus deveres como funcionário e ficou claro que ele não nutria um ódio pessoal contra os judeus. Suas ações criminosas não eram deliberadas ou intencionais: ele apenas obedecia cegamente às determinações do sistema de trabalho rígido e burocrático em que estava inserido, sem refletir, sem problematizar ou questionar as ordens que recebia e executava.
Obviamente que Hanna não tinha nenhuma intenção de “justificar” as ações de Eichmann, muito menos defende-lo no julgamento, mas suas análises apresentam um outro ponto de vista do esperando no momento, sua análise demonstra um Eichmann aplicado em seus afazeres e dedicado no cumprimento das ordens dadas a ele, um homem de ações irrefletidas e, com isso Hanna destaca que ele não se revelou um monstro, apesar de seus crimes serem monstruosos e ele ser responsável por inúmeras mortes. Segundo ela, seu exemplo servia para demonstrar que ações cruéis e violentas podem ser cometidas por seres humanos comuns, no exercícios de suas atividades cotidianas, quando eles deixam de exercer a capacidade de pensar, de refletir sobre suas ações, ignorando as consequências e as implicações éticas de seus atos. Agir assim, abrindo mão do pensamento, é banalizar o mal, apesar de seus graves efeitos sobre as pessoas.
Portanto, com base no caso Eichmann, para quem a ação correta era a obediência incondicional às ordens de seus superiores, Hannah Arendt nos leva a refletir sobre o fato de que não podemos, em nenhuma hipótese, abdicar de nossa capacidade de pensar, de analisar e refletir sobre as implicações éticas de nossas ações, mesmo as mais simples e cotidianas.
Quando não há pensamento crítico, reflexão, ou mesmo curiosidade de conhecer outros pontos de vista e interpretações de mundo, a interpretação de um grupo se impõe em nome dos respectivos interesses, mesmo que resulte em práticas antiéticas. Nesse contexto, vale lembrar que a Filosofia possibilita o exercício do pensar e da reflexão, o que demonstra a grande relevância dessa disciplina.
E então pessoal, por hoje é só! Fico por aqui, forte abraço a todos e até+
Prof. Joceilton Lemos
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