Consumo ou hiperconsumo?

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Quem não gosta de comprar não é mesmo? Ir ao shopping ou à sua loja preferida e comprar o que quiser é o objetivo de muitos. Seja comprando peças de vestuário ou até equipamentos eletrônicos, sempre nos sentimos bem comprando. Mas porque você compra o que você compra? Necessidade? Vontade?

Bem, neste texto quero refletir com você sobre o consumo. Na verdade, vamos, através de nossa reflexão, revelar a estreita linha que separa o consumo do hiperconsumo.

É um fato evidente: Existe uma linha tênue entre o consumo e hiperconsumo, que, as vezes é difícil perceber e diferenciar um do outro, mas ao mesmo tempo a atitude embalada por um ou por outro reflete de certa maneira a finalidade e nossas prioridades em relação a nossa ação  no meio em que vivemos e da mesma forma, tais práticas revelam nossos valores.

Em um dos polos, temos o consumo, o mundo ideal onde o consumo existe sob perspectivas consideradas ideais tanto para o desenvolvimento e sobrevivência humana quanto para a exploração correta e sustentável dos recursos naturais. Do outro lado, temos o consumismo, que é a versão exacerbada do consumo, uma violenta ação do homem no meio em que vive, com fins de satisfazer a todo custo seus desejos.

Consumir de forma consciente e criativa é possível, mas sabemos que o consumismo alienado e irresponsável é perigoso para a humanidade, por isso nos cabe pensar e repensar sobre nossas ações a fim de ponderarmos os riscos por trás das de nossas práticas na hora de consumir.

O grande problema é que por vezes as nossas ações variam entre os dois extremos: ou “endeusam” o consumo, entendendo que quanto mais melhor, sem pensarmos a longo prazo ou “demonizam” o consumo, não o considerando sob nenhum aspecto.

Sobre isso, o filósofo francês Gilles Lipovetsky, por exemplo, prefere não demonizar o consumo, mas aceitá-lo como fenômeno do nosso tempo. Ele observa que, desde o final dos anos 1970, devido às técnicas de marketing e de preços mais baixos, os bens se tornaram acessíveis a um maior número de pessoas, inclusive para as de menor poder aquisitivo, ávidas de compras nos grandes magazines.

Desse modo, surgiu uma nova fase de consumo mais intimista e personalizada, subjetiva. Para Lipovetsky, “no rastro da extrema diversificação da oferta, da democratização do conforto e dos lazeres”, o acesso às novidades mercantis tornou-se mais comum, diluindo-se de certo modo as regulações de classe.

Além disso, os consumidores estão “mais interessados em qualidade de vida, comunicação e de saúde, têm melhores condições de fazer uma escolha entre diferentes propostas da oferta”, determinando que o consumo se ordene “cada dia um pouco mais em função de fins, de gostos e de critérios individuais”. Nessa fase a mercantilização das necessidades deixa de ser institucionalizada e torna-se mais subjetiva e emocional.

Apesar de considerar o consumidor mais crítico, Lipovestky reconhece o poder massificante da publicidade e os malefícios do hiperconsumismo, entendido como a ilusão de que a mercadoria nos garantiria a felicidade. Ao contrário, o que nos preenche a vida é o que permite ao ser humano “inventar-se a si mesmo e inventar coisas”. O risco é deixar que o consumo se converta no sentido principal da vida das pessoas.

Neste contexto, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman também enxerga de certa maneira uma linha tênue entre o consumo e o consumismo. Segundo ele, o consumo “tem raízes tão antigas quanto os seres vivos (…) é parte permanente e integral de todas as formas de vida (…)”, mas mesmo assim não é tão otimista, e diz que o consumismo “aposta na irracionalidade dos consumidores, e não em suas estimativas sóbrias e bem informadas”.

Mesmo porque “a sociedade do consumo prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus membros”. Basta observar como os objetos de desejo são facilmente descartáveis para que um novo desejo imperioso se imponha.

De forma geral, Gilles Lipovetsky encara o consumo como parte da subjetividade do homem, atendo para o grande perigo de que o consumo seja de certa forma o principal sentido da vida das pessoas, e Bauman entende que até mesmo essa subjetividade apresentada no consumo de certa forma é dominada pelo mercado, ou seja, “Qualquer busca existencial, e principalmente a busca da dignidade, da autoestima e da felicidade, exige a mediação do mercado”. Tudo nos leva aos centros de consumo, seja sofrimento ou alegria, todos os caminhos levam ao shopping.

E então pessoal, O que acharam? Fico por aqui então, forte abraço a todos e até+

Professor Joceilton S. Lemos

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