Não são as coisas em si que nos perturbam, mas sim as nossas opiniões sobre elas.
Epicteto
No fascinante cenário do Período Helenístico, após a morte de Alexandre, o Grande, a Grécia Antiga testemunhou o florescer de diversas escolas filosóficas, cada uma com visões únicas sobre a existência humana e o significado da vida. Nessa época de efervescência cultural, a busca pela sabedoria ganhou novas dimensões, refletindo as mudanças sociais e políticas que se espalhavam pelo vasto império conquistado.
Entre as correntes filosóficas proeminentes desse período, destacam-se o Epicurismo, liderado por Epicuro, que preconizava a busca da felicidade através do prazer moderado e da tranquilidade interior. Para Epicuro, a ataraxia, ou serenidade mental, era alcançada pelo afastamento das perturbações emocionais e pela busca de prazeres simples e naturais, evitando os excessos que poderiam levar ao sofrimento.
Em contraste, o Ceticismo, liderado por Pirro de Élis, questionava a possibilidade de se alcançar um conhecimento absoluto sobre o mundo. Os céticos defendiam a suspensão do juízo em todas as questões, argumentando que as aparências muitas vezes enganam e que devemos nos abster de tomar posições dogmáticas.
A Escola Peripatética, fundada por Aristóteles, dedicou-se a seguir os ensinamentos do mestre e a percorrer caminhos filosóficos enquanto caminhavam. Essa escola manteve e expandiu a tradição aristotélica após a morte do filósofo, contribuindo para a disseminação de seu legado.
O Neoplatonismo, liderado por Plotino, buscou combinar elementos do platonismo com outras influências filosóficas da época. Essa corrente filosófica afirmava a existência de um mundo inteligível, transcendente e supremo, do qual o mundo material seria uma manifestação imperfeita.
Por fim, em meio a esse diversificado panorama filosófico, o estoicismo surge propondo uma filosofia de busca pela virtude e pela serenidade interior, essa escola filosófica oferecia orientação e consolo para muitos, convidando-os a viver em harmonia com a natureza e a aceitar os desígnios do universo.
Nessa rica tapeçaria de ideias e perspectivas, o estoicismo resplandece como uma fonte intemporal de sabedoria e um guia para uma vida autêntica e significativa. As escolas filosóficas desse período influenciaram a história da filosofia ocidental e deixaram um valioso legado de reflexões e perspectivas que continuam a desafiar e inspirar o pensamento humano ao longo dos séculos. Em meio a essa diversidade de correntes filosóficas, o estoicismo se destaca como uma bússola confiável para enfrentar os desafios da existência e encontrar a paz interior em meio às tempestades da vida. Em um mundo moderno repleto de ansiedade e preocupações fúteis, os princípios do estoicismo emergem como uma poderosa fonte de sabedoria, ressoando de maneira profunda nos pensadores contemporâneos que encontram neste antigo estilo de vida uma resposta para os dilemas da sociedade atual. De fato é uma forma filosófica de pensar antiga, contudo, ao compreender seus princípios e fundamentos, entenderá que trata-se de um estilo de vida não apenas atual mas necessário para se uma vida tranquila e feliz.
Os fundamentos do estoicismo datam do século III a.C., quando Zenão de Cítio ergueu os pilares dessa corrente filosófica em Atenas. À medida que a filosofia evoluía sob a influência de figuras como Cleantes de Assos e Crisipo de Soli, os estoicos compreendiam que o universo era regido por uma razão divina, o “logos,” e que cada ser humano carregava uma centelha dessa razão em sua essência. Essa perspectiva essencialmente cosmopolita enfatizava a conexão profunda entre todas as coisas e defendia viver em harmonia com a natureza, abraçando a virtude como o caminho para uma vida plena.
Um dos conceitos-chave do estoicismo é a “ataraxia,” ou serenidade interior. A palavra “ataraxia” tem origem no grego antigo, derivando do termo “ἀταραξία” (ataraxia), composto por “a-” (sem) e “tarachḗ” (perturbação). Assim, “ataraxia” pode ser traduzida como “ausência de perturbação” ou “tranquilidade”. Em meio à agitação do mundo e às tormentas emocionais que nos cercam, os estoicos buscavam atingir um estado de calma imperturbável, resultante do desapego das paixões e da aceitação dos eventos inevitáveis da vida. A ataraxia não é uma apatia indiferente, mas sim uma profunda tranquilidade que permite enfrentar os desafios com clareza mental e serenidade. A busca por ataraxia está intrinsecamente ligada à ideia de viver em acordo com a natureza. Os estoicos ensinavam que, ao reconhecer os limites da nossa influência e aceitar o que está além do nosso controle, libertamo-nos das expectativas irrealistas e, assim, experimentamos uma liberdade interior única. Essa liberdade não significa isenção de responsabilidades, mas sim uma disposição para enfrentar as circunstâncias com coragem e discernimento.
Ao lidar com as preocupações fúteis e emoções perturbadoras, o estoicismo enfatiza o autocontrole. Ao invés de sermos escravos de nossas paixões, os estoicos nos convidam a examiná-las com honestidade e a desenvolver a capacidade de escolher nossas respostas às situações. Assim, podemos encontrar equilíbrio e paz interior, mesmo em meio às turbulências da vida. Outro aspecto central do estoicismo é o enfoque no momento presente. Vivemos em uma era de constante distração e preocupação com o passado e o futuro. Os estoicos nos lembram da importância de estarmos plenamente presentes em cada instante, valorizando a preciosidade do agora. Ao fazê-lo, liberamo-nos das amarras da ansiedade e das expectativas, encontrando um porto seguro no eterno fluxo do presente. Para os estoicos, a virtude é a única fonte genuína de felicidade e realização. A busca incessante pelo prazer superficial é incompatível com a verdadeira tranquilidade e contentamento. Em vez disso, eles defendiam que a prática constante da sabedoria, coragem, justiça e temperança leva à excelência moral e à paz interior duradoura.
Por fim, o estoicismo nos convida a confrontar a impermanência da vida e a inevitabilidade da morte. Ao abraçar a finitude da existência, desenvolvemos um profundo senso de gratidão e urgência em viver autenticamente. A consciência da transitoriedade nos inspira a valorizar cada momento e a dedicar nossa energia a aquilo que realmente importa. Na sociedade contemporânea, em que a ansiedade e as preocupações fúteis se tornaram quase onipresentes, o estoicismo se torna uma fonte de consolo e orientação. Autores e pensadores modernos têm redescoberto essa filosofia prática, resgatando seus princípios como ferramentas valiosas para a autorreflexão, resiliência emocional e a busca por uma vida autêntica e significativa.
Sem dúvidas o estoicismo transcende o tempo e continua a nos ensinar lições profundas para a vida contemporânea. Com sua ênfase na ataraxia, no viver em acordo com a natureza, no desapego das paixões, no foco no momento presente e na busca pela virtude, essa antiga corrente filosófica é uma fonte inesgotável de sabedoria e guia para uma existência plena e com propósito verdadeiro. Ao adotar os princípios do estoicismo como um estilo de vida, encontramos uma bússola para navegar as águas agitadas do mundo moderno com coragem, tranquilidade e serenidade.
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