Teorias Éticas na Idade Média

Teorias Éticas na Idade Média

Teorias éticas de Santo Agostinho e Tomás de Aquino

Durante a Idade Média, a religião cristã forma o pano de fundo do pensamento filosófico, diante disso, destacamos dois períodos distintos para a época, sendo o primeiro chamado de patrística, o segundo de escolástica. Na Patrística, podemos destacar Santo Agostinho, ou Agostinho Bispo de Hipona como também era conhecido. Nascido em 354, Agostinho recebeu influências greco-romanas, em especial do neoplatonismo e do estoicismo, além de passear um pouco pelas doutrinas maniqueístas. Uma vez convertido ao cristianismo, dedicou-se à construção de uma Filosofia cristã.

Para entendermos a ética sob a ótica Agostiniana, precisamos nos atentar a três conceitos distintos: Vontade, livre-arbítrio e graça, esses por sua vez, explicam o teor de sua filosofia. Se existia uma questão que ocupava o pensamento de Agostinho era o PROBLEMA DO MAL. Agostinho entendia que Deus era um ser perfeito, criador de todas as coisas e sumamente bom. Dai surge a questão: Se Deus realmente é bom, por que existe o mal? Se Deus criou todas as coisas teria também criado o mal? Para Agostinho, definitivamente não é Deus o autor do mal. Dois pontos são importantes neste momento. O primeiro é entendermos, diante da ótima agostiniana do problema do mal, que o mal não é uma substancia.

Aqui Agostinho queria explicar que o mal não era uma pessoa, ou um ser. Ele chama essa análise de ontológica-metafísica. Ele diz que: “Se tudo o que existe é bom, segue que o que está destituído de bondade está desprovido de existência.” Como assim? Ainda não entendi! Aqui Agostinho reforça sua tese de que Deus definitivamente não criou o mal. Mas ele existe? Sim, daí seguimos para o segundo ponto. O problema do “mal moral”.

Ele então analisa o mal diante de uma ótica moral, ou seja, o mal está ligado a questão moral do homem, de sua fraqueza diante de fazer o bem, o mal está diretamente ligado ao homem. Agostinho afirma que “O mal moral é o pecado. Esse depende de nossa má vontade”. Por isso, para explicar a possibilidade desse desvio, o filósofo recorreu ao conceito de vontade.  O fato do homem não se utilizar da livre vontade para o bem, o torna responsável por assim não agir, a livre vontade corrompida do homem é a responsável por ele se submeter as suas paixões, o que o leva ao “mal moral”. Agostinho destacou, ainda, o conceito de livre-arbítrio, entendido como a liberdade de escolha dada por Deus aos seres humanos para que pudessem direcionar a vontade à busca dos bens mais importantes. No entanto, o uso incorreto do livre-arbítrio, desviando-se dos bens espirituais em favor dos bens materiais, seria a causa do mal moral, ou seja, do pecado humano.

Para compreender a possibilidade do mal moral no pensamento agostiniano, é preciso considerar sua crença na existência de inúmeras manifestações do bem, de diferentes graus, uma vez que ele entendia a criação como obra de amor de um Deus perfeito. Nessa visão, o pecado seria justamente o uso inadequado do livre-arbítrio, o desvio da vontade, ou seja, um ato de soberba da criatura que se afastaria de forma voluntária do Criador, optando pelos bens da vida material, inferiores aos bens espirituais. Segundo Agostinho, males físicos, como as doenças e a morte, eram efeitos do pecado original, representado pela soberba de Adão e Eva, por meio da qual a alma pecadora corrompera a carne. Depois desse delito, o ser humano passou a necessitar da GRAÇA divina para se redimir.

Contudo, em um segundo ato de amor, Deus lhe concederia a graça, como meio de proporcionar-lhe a salvação, libertando-o da escravidão das paixões e direcionando seu livre-arbítrio ao verdadeiro bem, para o qual ele fora criado. Assim, o indivíduo se tornaria incapaz de fazer o mal. Logo, segundo Agostinho, a liberdade humana consistia na aceitação da graça, para o correto direcionamento do livre-arbítrio.

O próximo período, o da Escolástica, tomamos como base os pensamentos de seu principal filósofo, o pensador cristão Tomás de Aquino, que viveu entre 1225 a 1274. Bebendo da filosofia Aristotélica, Tomas de Aquino buscou superar o embate existente até então, unindo a fé e a razão, refletindo sobre diversas áreas da filosofia, inclusive a ética, retomando pontos discutidos na antiguidade, como a FELICIDADE E A VIRTUDE.

Quanto a felicidade, Aquino entendia que em razão do pecado o homem não possui condições de se sentir plenamente realizado em sua vida terrena e uma das coisas que aumentava mais essa angustia era a ciência de que a existência é finita, ou seja, o homem não viveria para sempre. Por isso Tomás de Aquino afirmava que somos inquietos e descontentes com aquilo que alcançamos, Segundo ele, essa insatisfação permanente, própria da condição humana, apenas poderia ser superada por meio da BEATITUDE, a felicidade tranquila, serena e eterna decorrente da contemplação de Deus. No entanto, a beatitude não poderia admitir a presença do mal. Logo, Aquino afirmava que era necessário viver uma vida ordenada por um amplo conjunto de virtudes, as quais somente a iluminação divina poderia proporcionar.

Prof. Joceilton S. Lemos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *